sexta-feira, 4 de junho de 2010

O DESEJO DE CAMILA

Deitada na cama Camila relaxa, mais um dia que passou. O fio de voz de Nara Leão cantando a música Insensatez, torna o ambiente daquele quarto ainda mais tranqüilo e acolhedor. Toda essa paz é interrompida por uma súbita sede. Ela passa pelo corredor, chegando até a sala. A escuridão não é completa, existe a meia luz de um abajur. Na parede, ela nota um quadro meio torto, aproxima-se para corrigir o erro que achou. Nesse momento lembra a conversa que teve com uma amiga pela manhã:

- Você é muito certinha.

- Não sou certinha, gosto de tudo no seu devido lugar.

- Mas é chato tudo arrumado.

- Não é chato, é prático, facilita a vida.

- E quando você sai daquela casa?

- Você sabe que não gosto de apartamentos.

- Mas apartamentos não são práticos?

- A visão que eu tenho de um prédio de apartamento, é de várias pessoas desconhecidas morando em uma mesma casa, separadas apenas por paredes. Sinto-me muito bem e segura em minha casa, nunca me aconteceu nada de mal em todos esses anos.

Depois de certificar-se que o quadro está em harmonia com os outros, segue para cozinha, um pouco iluminada pelos vestígios de luz que chegam da sala, ela abre a geladeira. Parece vê um vulto, olha novamente para certificar-se, e se depara com um homem.

- Quem é você? O que quer aqui? Vá embora.

O intruso leva o dedo a boca, fazendo um sinal para ela calar. Na escuridão, a luz da geladeira aberta reflete na camisola transparente, deixando à mostra sutilmente as curvas do belo corpo daquela mulher. Que estranhamente não se encontra com medo diante daquela situação. Uma estranha troca de olhares acontece entre a dona da casa e o invasor. Foi como se selassem um pacto de desejo mútuo e cumplicidade. Deitados no chão não se despiram, fizeram amor ali mesmo. O homem que sentira uma atração imediata pelo que lhe pareceu ser a mais perfeita e tão próxima mulher que já encontrara. Sem palavras fez dela umas das fêmeas mais realizadas. Tudo foi muito rápido, mas para ambos cada segundo que se passou foram pedaços de uma eternidade sem igual. Será uma forte lembrança de suas vidas que jamais esquecerão.

De repente ele levanta-se oscilando entre a realização e a vergonha. Toda a sua vida passou em sua cabeça, como um filme rápido. Todas as mulheres que já teve em sua vida de marginal. Não sabia por que tinha agido daquele jeito com aquela. Não era seu costume tratar tão bem uma mulher. Então saiu rápido daquela casa como entrou, e sumiu na escuridão. A razão dos conflitos que perturbaram a cabeça daquele ser excluído que sumiu no escuro, encontrava-se ainda deitada no chão de sua cozinha sem acreditar no que lhe havia acontecido.

Mais um dia se passou. A mulher que teve sua casa invadida, nada fez nesse sentido. Encontrava-se deitada em sua confortável cama, coberta de lembranças, que não sabia se queria esquecer, ou guardá-las em sua mente como um bem precioso. No outro lado da cidade o desejo de Camila, em uma rua escura abordava um pedestre batendo com o seu revólver no ombro:

- Aí véio, passa a carteira e o celular.

- Que, que é isso rapaz?

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